Arquivo do dia: 10/03/2011

À beira

Ele sempre comparecia à beira. Fazia-lhe bem observá-la, talvez pela indignidade de um gesto de quem costumeiramente não possui gratidão alguma pela graça divina da vida, talvez porque simplesmente desejava estar à beira. Lá tudo se movia e tudo se apresentava, pelo menos em sua restrita percepção do mundo, de modo vivaz, belo e decadente. Tudo ali exalava orgulho poente, como demonstrava ele em suas cartas e poemas sobre a beira. O estar sozinho ali não doía, tampouco lhe completava ou confortava. Um ato mecânico de se apresentar à beira. Simplista por demais seria lhe tomar explicações sobre isso, era mais fácil tomar as alheias. E exatamente por isso, por nunca questionar-se o porque de tudo o que fazia à beira é que ele continuou comparecendo à ela.